segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Menos de 10% - Símeos, golfinhos, Lucy e Cinema


Dez é a percentagem que utilizamos da capacidade total do nosso cérebro. Apenas dez. Talvez seja possível utilizar um pouco mais, provavelmente com treino. Existe apenas um animal à face da Terra - aliás, e mais precisamente, no mar - que utiliza o dobro : o golfinho. As suas capacidades são diferentes das dos humanos, que utilizam os seus meros dez para pensar, falar, grandes feitos e muitos outros defeitos. 

Este mamífero marinho não a utiliza para os grandes (e)feitos que a Humanidade conseguiu, mas talvez seja por isso que não se possa culpar o golfinho pelas tantas e estúpidas guerras. Daí que o mundo esteja tão mal (ou bem) como está. Não é por causa deles que precisamos de reciclar tudo e mais alguma coisa, que o clima esteja completamente louco ou a caminhar para uma insanidade que mata milhares de pessoas e outros seres vivos - animais e não só - todos os dias. Como Humanos, queremos crer que o que fazemos todos os dias nos faz mais feliz. Mas quem nos diz que não são eles, os golfinhos, - esses outros animais que não são peixe nem totalmente carne - quem realmente é feliz? 

Isto a propósito de um dos filmes que vi o ano passado e que entrou diretamente para o meu ranking dos melhores desse ano : Lucy (2014) do visionário Luc Besson, que tem o dom de me maravilhar, primeiro, com os seus filmes, e depois me fazer refletir sobre eles e os assuntos que levanta através deles. Para mim, isto é bom cinema, mesmo que o faça com uma pitada - ou doses avantajadas - de ficção científica, que nunca se consegue saber se é assim tão ficção ou se deixa muito a desejar à ciência. Não importa. Neste filme, em que Luc mistura um pouco de Matrix com Star Wars, ou até Kill Bill, mais uma vez ele coloca a protagonista que dá nome ao filme, desta vez sozinha, sem um Bruce Willis que a ajude na vingança que procura (relembro a Mila Jovovich de O Quinto elemento). Vingar-se do quê?

A trama começa quando Lucy  - que também foi o nome que deram à primeira primata da História - é colocada numa situação de tráfico de CPh4, uma substância que cria micro explosões no cérebro e alucinadamente aumenta a capacidade mental de quem a consome. Depois de ser obrigada a colaborar com um poderoso e misterioso gang asiático, fica, tal como um animal numa armadilha ou como uma presa, à espera do seu predador. É-lhe colocado no interior da barriga um saco com esse narcótico - o mesmo que um feto recebe da mãe em doses mínimas durante a gestação e que aumentam exponencialmente o seu desenvolvimento, sobretudo mental. Quando é espancada por um dos membros desse gang, o saco rebenta e a substância espalha-se pelo seu corpo, criando uma alucinante viagem interna pelas suas capacidades, que obrigam a ver o mundo de outra forma, diferente do formato com que habitualmente vemos o mundo.

Se os Humanos com dez porcento já causam tantos danos, imagine-se se conseguissem utilizar um pouco mais da sua capacidade mental! Mas ainda bem. Dez porcento é perfeitamente suficiente para sermos os seres (in)inteligíveis que nos tornámos e muitas dores de cabeça já nos provocam. O problema são mesmo as pessoas que nem sequer se esforçam para utilizar metade que seja dessa capacidade e tornam o mundo um sítio menos bom para se estar e viver. Claro que haverá sempre aquelas 'inteligências' raras que a utilizam para o mal. Mas prefiro pensar que ela - a inteligência - tem o propósito de nos tornar pessoas melhores.

Ainda assim estou cada vez mais convencido da máxima que reza que 
"A ignorância é uma benção."
(Do poema de Thomas Gray, Ode on a Distant Prospect of Eton College (1742): "Where ignorance is bliss, 'tis folly to be wise.")


(Caso não consigas visualizar o trailer, clica aqui)


Sem comentários:

Enviar um comentário